Coronavírus: população ressalta importância da Caixa na pandemia


Fila na Caixa Econômica Federal da Av. Paulista, em São Paulo (SP), na manhã de 29 de abril de 2020

Movimentos sociais defendem fortalecimento do banco público e enfatizam que a falta de informações, falhas no sistema e concentração do pagamento do auxílio emergencial na Caixa estão penalizando bancários e população, e são responsabilidade do governo federal

Entre 2014 e 2019, os empregos formais no Brasil caíram de 49,5 milhões para 38,4 milhões, segundo a Relação Anual de Informações Sociais (Rais) e o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Com a diminuição das ocupações com carteira assinada, aumentaram os empregos informais e os trabalhadores autônomos.

A precariedade do mercado de trabalho brasileiro ficou ainda mais evidente com a eclosão da pandemia do novo coronavírus e com o número imenso de pedidos para o auxílio-emergencial.

Com a decisão de delegar exclusivamente à Caixa o pagamento do auxílio de R$ 600, as agências do banco passaram a ser palco de filas intermináveis.

“O volume de pessoas foi muito grande e a fome não espera”, afirma Raimundo Bonfim, coordenador nacional da Central de Movimentos Populares (CMP) e liderança da favela de Heliópolis.  

“Nós recebemos diariamente ligações de pessoas pedindo informações, e explicamos que o problema não é da Caixa, um instrumento importante para o desenvolvimento econômico e social. O problema é que o governo não preparou o sistema bancário como um todo para cumprir essa tarefa gigantesca de efetuar o pagamento do benefício para milhões de pessoas. É inadmissível deixar as pessoas pernoitando dois, três dias para receber o auxílio”, protesta.  

Os problemas causados pela concentração do pagamento do auxílio apenas na Caixa são intensificados pela falta de informações e falhas no sistema de cadastro para o recebimento da renda

“A gente percebe que muitas famílias não conseguem resolver os problemas por aplicativo, por site, e até mesmo por telefone, e se expõem indo até a Caixa Econômica Federal, hiperlotando as agências e expondo também os funcionários para buscar as respostas para dúvidas simples que poderiam ser sanadas com propagandas na televisão, que é o meio de comunicação com mais alcance, principalmente entre as famílias da periferia”, avalia Jussara Basso, uma das coordenadoras estaduais do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).

O drama do auxílio-emergencial
O coronavírus começou a atingir a população brasileira em fevereiro, com o primeiro caso notificado no dia 26. No entanto, mais preocupado com os números da economia do que com as vidas das pessoas, o governo federal se recusou a implantar um esquema de isolamento social em âmbito nacional. Com isso, a contaminação e as mortes começaram a aumentar.

Diante da inércia de Brasília, governadores e prefeitos passaram a adotar por conta própria o isolamento social nos estados e municípios. Enquanto isso, o governo federal se mostrava pouco preocupado com a sobrevivência das famílias durante o período de pandemia.

A proposta de criar um auxílio para trabalhadores informais foi anunciada somente em 18 de março, com o pagamento de apenas R$ 200 mensais por até três meses. Apesar do anúncio, nenhum projeto foi enviado ao Congresso.

Após repercussões negativas na sociedade e pressão da oposição no Congresso, em 26 de março o presidente Bolsonaro aceitou aumentar o valor para R$ 600. Com isso, o projeto foi aprovado pelos deputados no mesmo dia, e pelo Senado no dia 30 de março. No dia 2 de abril, o pagamento do auxílio foi sancionado pelo presidente.  

Caixa sobrecarregada
A Dataprev, empresa pública responsável por identificar quem tem direito a receber o auxílio emergencial, informou que, até o dia 30 de abril, dos 96,9 milhões de CPFs que já foram analisados e enviados à Caixa Econômica Federal, 50,52 milhões atenderam aos critérios da lei e foram considerados elegíveis para receber o benefício, ou seja, 52,1% do total.

Outros 32,77 milhões estão inelegíveis e não poderão receber o auxílio (33,8%), e 13,67 milhões (14,1%) estão classificados como inconclusivos, ou seja, precisam de complementação nos cadastros.

O governo federal decidiu concentrar na Caixa Econômica Federal o pagamento dos auxílios emergenciais. A mesma Caixa Econômica Federal que desde o golpe de 2016 vem sendo sucateada e perdeu quase 20 mil empregados por meio de planos de demissão voluntária, e que está abandonando seu perfil de banco público e social para priorizar as operações visando negócios e clientes de rendas mais elevadas.

“Nesse momento da pandemia, se a Caixa tivesse sido privatizada, como era o desejo do Temer e do próprio Bolsonaro, nós estaríamos agora em situação muito mais complicada, apesar desse novo modelo de gestão do banco que tem diminuído o quadro de pessoal e desvalorizado o servidor público bancário. Esperamos em breve resgatar novos programas de habitação para o campo e para toda a população brasileira, porque o déficit habitacional no Brasil é muito grande”, diz Aristides Veras dos santos, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag). (Fonte: Seeb SP)


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