Falta de concorrência em bancos é a vilã dos juros, dizem especialistas


O vilão dos altos juros no cartão de crédito não é o parcelado sem juros, mas a forte concentração
de bancos nas mãos de poucos grupos.

Especialistas ouvidos pelo UOL contestaram a afirmação do ex-presidente do Banco Central (BC)
Gustavo Loyola, segundo a qual a existência do parcelado sem juros no cartão de crédito é que
gera distorção nas taxas cobradas.

Ele fez a afirmação durante sessão na CPI dos Cartões de Crédito, na quarta-feira (16), em
Brasília. Para Loyola, o parcelado sem juros seria um dos fatores que levam o Brasil a ter um dos
maiores spreads bancários do mundo. O spread é a diferença entre o que os bancos pagam de
remuneração para quem investe neles e o que eles cobram de clientes que tomam dinheiro
emprestado.

Na avaliação de economistas, com a forte concentração do setor bancário, as instituições
financeiras forçam suas margens de lucro no mercado de crédito. Esse cenário contribui para a
manutenção das taxas elevadas.

Falta de competição está na raiz do problema
O professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio e economista-chefe da empresa de
pagamentos Stone, Vinícius Carrasco, afirma que a falta de competição no setor bancário no
Brasil está na raiz do problema do spread.

"Os juros eram altos no passado devido à inflação e à alta taxa básica de juros, a Selic. Além da
inflação menor, a gente tem visto uma redução brutal nos juros básicos, mas as taxas ao
consumidor continuam altíssimas", diz o economista.

Parcelado sem juros é opção mais barata do comércio
Ex-diretor de Planejamento do BNDES, Carrasco afirma que o parcelado sem juros no cartão de
crédito é a forma mais barata de o varejo financiar seus custos. Na prática, o varejista usa as
parcelas que ainda receberá do consumidor, os chamados recebíveis, como uma garantia para
obter empréstimos nos bancos.

"Essas parcelas a serem recebidas podem ser usadas como uma garantia num empréstimo ou
podem ser antecipadas a taxas menores que a média do mercado", diz Carrasco, que participou
do debate na CPI no Senado.

Substitui cheque pré-datado e beneficia consumidor
Segundo o presidente da Abranet (Associação Brasileira de Internet), Eduardo Parajo, o parcelado
sem juros substituiu o cheque pré-datado e propiciou mais segurança no comércio.

"É a linha de crédito mais barata, tanto para o consumidor quanto para o lojista que pega
empréstimos baseado nesses recebíveis", afirma.

Cartão representa apenas 12% do crédito no país
A Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços) também
participou do encontro da CPI dos Cartões na quarta-feira (16).

Em sua apresentação, a entidade mostrou que o setor de cartão de crédito representa apenas
cerca de 12% do mercado de crédito para pessoa física no Brasil, com R$ 201 bilhões
movimentados do total de R$ 1,6 trilhão (dados de dezembro de 2017). Se forem considerados os
pagamentos à vista e o parcelado sem juros, esse percentual é ainda menor: 9,2% (R$ 152
bilhões).

A maior fatia é do setor imobiliário, com cerca de 34% (R$ 565 bilhões), seguida do crédito
pessoal, com 25% (R$ 412 bilhões).

Com somente 12,2% de participação, os cartões não podem ser taxados de vilões dos juros,
segundo a associação. (Fonte: UOL)


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