Previ tem déficit de R$ 24 bi no 1º trimestre


(Por Juliana Schincariol, Valor)

A crise nos mercados causada pelo avanço do coronavírus levou a Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, a um déficit de R$ 24 bilhões no primeiro trimestre do ano. O resultado refere-se ao Plano 1, de benefício definido (BD), que concentra a maior parte dos investimentos em bolsa. Com o resultado positivo da bolsa em abril, houve recuperação de R$ 2 bilhões, segundo dado prévio.

No primeiro trimestre, o segmento de renda variável teve desvalorização de 26%. O recuo foi menor do que o resultado negativo de 37% do Ibovespa e dos fundos de ações, que tiveram perdas médias de 33,41%, segundo a Associação das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), diz o presidente do fundo de pensão, José Maurício Coelho, em entrevista ao Valor.

“Foi uma intensidade [de quedas do mercado] que não tínhamos experimentado em tão pouco tempo. No resultado consolidado, o resultado negativo foi de 12,39%”, disse Coelho, referindo-se ao Plano 1. As perdas do Previ Futuro, plano de contribuição variável, foram de 12,14%, entre janeiro e março.

O fundo de pensão havia encerrado 2019 com superávit de R$ 2,19 bilhões, mesmo após o após o impacto de R$ 5,11 bilhões da revisão das premissas atuariais. Com parcela expressiva em renda variável, o plano vem trabalhando para reduzir a concentração em bolsa para fatia mais diversificada. Os 12 maiores ativos do Plano 1 representam a maior parte da carteira de ações.

A Previ optou fazer uma revisão extraordinária de sua política de investimentos, em um acompanhamento mensal. Em geral, essa revisão era anual. O que deve ser feito são ajustes na “ponta tática”, disse Coelho. Para 2020, o projeto inicial era fazer investimentos da ordem de R$ 4,8 bilhões em fundos multimercado, imobiliários e também no exterior. “Suspendemos essa alocação temporariamente até que entendamos melhor os efeitos da intensidade [da crise] e demos preferência para as NTN-Bs”, afirmou. A fundação não mudou sua ideia de buscar a diversificação, completou.

A Previ viu oportunidades nos títulos do Tesouro NTN-B, a maioria com vencimento em 2055, que ficaram mais atrativos e em linha com a meta atuarial da entidade. Assim, comprou R$ 2,5 bilhões no mercado secundário, e a maior parte foi destinada à carteira do Plano 1. Já na renda variável, não houve movimentos no plano BD, enquanto no Previ Futuro houve oportunidades de compra, segundo Coelho.

O presidente da Previ reforça a qualidade da carteira de ações. Entre os maiores ativos estão Vale, Neoenergia, Banco do Brasil e Petrobras. “Nossas dez maiores empresas do Plano 1 são empresas em que não se discute a qualidade”, disse. Ele lembra que as ações da Vale chegaram ao patamar de R$ 9 em janeiro de 2016 e quatro anos depois, perto de R$ 60 - recuperando-se, inclusive, do impacto com o rompimento da barragem em Brumadinho (MG).

“É fundamental termos uma gestão de liquidez e regras muito fortes. A Previ paga R$ 13 bilhões ao ano de benefícios. Se vendermos qualquer uma dessas ações para pagarmos benefícios, tiramos a chance de recuperação”, disse. Quando a Previ teve o déficit em 2015 por causa da recessão, as empresas estavam com preços muito depreciados, mas naquela ocasião também não vendeu os papéis, lembra o executivo, que na época não estava à frente da fundação. “Em 2016, 2017 e 2018, os preços foram se recuperando e o superávit voltou. Temos convicção em nossa estratégia. O que esperamos agora é uma recuperação parecida.”

A Previ realizou testes de “estresse” e, considerando um cenário extremo sem receber dividendos ou aluguéis em 2020 e 2021, ainda teria liquidez por 20 meses para pagar benefícios. “Não é o que estamos vendo na prática, temos uma expectativa menor de receber dividendos, mas não de zerá-los. Quanto aos aluguéis, até agora temos casos pontuais de atraso ou uma ou outra renegociação”, diz.

O mês de abril apontou alguma melhora e o Plano 1 reverteu perdas de R$ 2 bilhões. Mas ainda assim, o período foi marcado por muita volatilidade, lembrou. “Esperamos que a recuperação aconteça, mas a velocidade dela ainda é uma grande incógnita. Precisamos de um pouco mais de tempo para entender”, afirmou Coelho. O desenvolvimento de uma vacina ou medicação para combater a covid-19 pode mudar a velocidade recuperação. “Nossa função é estarmos preparados para o cenário mais difícil. Se for melhor, aproveitamos as oportunidades”. (Fonte: Valor Econômico)


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