Grandes bancos devem mostrar lucro 16% maior no 1º trimestre deste ano


Por Talita Moreira e Flávia Furlan

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Os grandes bancos brasileiros de capital aberto vão mostrar resultados mais fortes no primeiro trimestre deste ano, mesmo com a atividade econômica aquém do esperado. Juntos, Itaú Unibanco, Banco do Brasil (BB), Bradesco e Santander devem ter lucro líquido recorrente de R$ 20,169 bilhões no período de janeiro a março, aponta média das projeções de analistas consultados pelo Valor. O resultado, se confirmado, será 16% superior ao obtido no mesmo período de 2018.

A expectativa é que os números reflitam um desempenho mais aquecido do crédito e o foco em operações com spreads mais elevados. As instituições financeiras têm se concentrado em linhas para pessoas físicas e pequenas empresas, principalmente naquelas com garantias.

"Depois da eleição do presidente de centro-direita Jair Bolsonaro, a nova proposta de reforma da Previdência e os dados macro apontando para uma recuperação da economia, acreditamos que os bancos brasileiros entraram em um novo ciclo de crédito", afirmam analistas do UBS em relatório a clientes.

Na visão do banco suíço, a atuação mais forte dos bancos nos segmentos de pessoas físicas e pequenas empresas deve compensar parcialmente uma taxa Selic mais baixa e a entrada de novos financiamentos na carteira com taxas menores.

Relatório da XP Investimentos aponta o crédito a pessoas físicas entre as principais razões para a melhora dos resultados. A composição mais favorável das carteiras, segundo os analistas da corretora, terá impacto positivo na margem financeira bruta das instituições.

Para os analistas da Eleven Financial, não é apenas o foco nas pessoas físicas e pequenas empresas que vai contribuir para o aumento da margem financeira. A postura das instituições financeiras também ajuda. "A competição continuou racional, decorrente principalmente dos pares privados", afirmam, em relatório.

A Eleven prevê crescimentos de 3% (Banco do Brasil) a 10% (Bradesco e Santander) nas carteiras de crédito dos quatro grandes na comparação entre o fim de março deste ano e o mesmo mês de 2018.

O estoque de crédito do país cresceu 5,5% nos 12 meses até o fim de fevereiro, para R$ 3,241 trilhões, conforme os dados mais recentes do Banco Central. As operações com pessoas físicas avançaram 9%, para R$ 1,815 trilhão, enquanto os empréstimos e financiamentos para pessoas jurídicas cresceram 1,4%, totalizando R$ 1,427 trilhão.

Os balanços devem mostrar também uma nova redução, ainda que leve, na inadimplência. De acordo com o UBS, a taxa de calotes nos quatro bancos deve ficar em 2,9%, ante 3,2% em dezembro e 3,58% em março do ano passado.

Na avaliação da Eleven, pode até haver algum aumento da inadimplência no primeiro trimestre em relação ao fim do ano passado, o que se explica pela sazonalidade do gasto das famílias e por casos específicos do segmento de grandes empresas, mas nada que afete o custo do crédito. "Como parte relevante destes casos está provisionada e a qualidade dos ativos permanece saudável, de forma geral, o custo de crédito não deve ser substancialmente alterado", destaca.

Um ponto a ser observado, segundo analistas, é o impacto da maior competição no setor de adquirência, atividade que credencia lojistas para o uso das maquininhas de cartões. Para o UBS, a concorrência mais acirrada nessa atividade tende a pressionar as despesas. Também não se descarta algum efeito negativo nas receitas com serviços.

Depois de perder mercado para credenciadoras novatas, como Stone e PagSeguro, os grandes bancos têm se mostrado dispostos a reduzir a rentabilidade de suas adquirentes para recuperar espaço e avançar no segmento de pequenos empreendedores. O Itaú é dono da Rede. BB e Bradesco dividem o controle da Cielo. O Santander detém a Getnet, a única das três que vem ganhando terreno.

No caso do Itaú, as receitas com comissões e tarifas, que inclui as bancárias, de seguros e da Rede, sua adquirente, devem cair 3,2% frente ao último trimestre de 2018, preveem analistas do Banco Safra. Eles também projetam uma redução de 4,2% na receita do Santander com comissões e tarifas na mesma base de comparação.

A temporada de balanços das instituições financeiras começa amanhã, dia 25, com a divulgação do resultado do Bradesco. Os analistas apontam maior apetite da instituição financeira por empréstimos. Segundo a XP, o banco deve se beneficiar "de um maior saldo médio da carteira e um mix favorável impactando a margem financeira bruta".

A média das projeções de analistas indica lucro de R$ 6,09 bilhões para o Bradesco, com alta anual de 19,36%. As estimativas indicam que o BB será a instituição com maior alta do lucro no primeiro trimestre. O resultado do banco deve crescer 28,78%, para R$ 3,897 bilhões. Segundo os analistas do Safra, a inadimplência da instituição deve cair um ponto percentual na comparação com março do ano passado, para 2,7%. O movimento é devido ao comportamento dos clientes pessoa física e do agronegócio.

Para Itaú e Santander, os analistas indicam, em média, resultados de R$ 6,808 bilhões (+6,06%) e R$ 3,374 bilhões (+19,01%), respectivamente.

No caso do Itaú, os analistas do Banco Safra esperam um desempenho modesto das receitas de serviços frente ao forte primeiro trimestre de 2018. Por outro lado, a margem financeira com clientes deve melhorar devido ao bom desempenho do crédito a pessoas físicas, compensando uma margem mais fraca nas operações com o mercado.

No Santander, o aumento da margem financeira e das receitas de serviços deve sustentar uma nova alta da rentabilidade - algo que o Safra considera "impressionante". O retorno esperado é de 20,6% para o primeiro trimestre, frente a 18,8% no mesmo período do ano passado, segundo os analistas do banco. (Fonte:Valor Econômico)


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