Novo coordenador da Greenfield propõe envio de apurações à PF: 'Não estou aqui para trabalhar muito'
Procurador Celso Três citou adversidades pelas quais a força-tarefa passa e sugeriu que operação firme acordos para encerrar processos. (Por Márcio Falcão e Luiz Felipe Barbiéri)
O novo coordenador da Operação Greenfield, procurador Celso Três, enviou um ofício à Procuradoria Geral da República (PGR) sugerindo o envio à Polícia Federal (PF) das apurações de competência da força-tarefa.
O ofício, que foi divulgado pelo jornal "O Globo", foi confirmado pela TV Globo.
O procurador também sugere aos colegas que a força-tarefa formate uma linha de "produção de acordos de não persecução penal", para encerrar os casos em investigação.
“Decididamente, não estou aqui para trabalhar muito. Já o fiz na 'gringolândia' (roça, região italiana do RS) e, chegado a Porto Alegre a bordo do êxodo rural, servido por apetitoso 'x-mico' (pão e banana) no correr de largo tempo. Ou seja, trabalhei pela sobrevivência, não porque achasse bom. Hoje, quero é jogar futebol”, afirmou.
A Greenfield foi criada em julho de 2016 para apurar desvios nos maiores fundos de pensão do país, entre eles, Previ do Banco do Brasil e Funcef da Caixa Econômica Federal. Investigou desvios na Caixa, e foi a responsável pela apreensão das malas de dinheiro com R$ 51 milhões de Geddel Vieira Lima, ex-ministro do governo Michel Temer.
A operação também resultou nas denúncias de políticos como o próprio Temer e os ex-deputados Henrique Eduardo Alves e Eduardo Cunha, além de Geddel e de Lúcio Funaro.
O ofício foi enviado a um órgão da PGR que coordena ações de combate à improbidade administrativa e à corrupção. O procurador se dirigiu a “membros remanescentes” da Greenfield para propor o que chamou de “caminhos viáveis” para a operação.
Celso Três narrou no ofício uma série de adversidades pelas quais, segundo o procurador, os integrantes da operação estão passando.
Ele disse, por exemplo, que nenhum dos atuais sete membros voluntários da força-tarefa estão na sede da apuração, em Brasília, e criticou a “imprevisibilidade” do presidente Jair Bolsonaro.
“Sequer sabemos da chefia, exmo. PGR Aras logo finalizando mandato. Do Presidente Bolsonaro temos apenas uma previsibilidade: sua imprevisibilidade. Mais que previsível, certo, é que esta ‘batata quente de Greenfield seguirá assando nas nossas mãos’. Poder é amoral”, afirmou.
“Ninguém (Corregedoria, Egrégia 5ª CCR, adversos interna corporis …) serão compreensivos, muito menos reconhecedores de nossa atuação sob todas estas adversidades. Pior. Ainda dirão que fomos designados para liquidar com a investigação”, acrescentou o procurador.
No documento, Três citou também o volume de trabalho da operação e ironizou a composição da equipe. "Daria título de filme: ‘montanha de processos e os 7 em diáspora", afirmou o procurador.
Fundos de pensão
O procurador destacou também que os próprios fundos de pensão devem ajuizar as ações na justiça em caso de fraudes e irregularidades. Segundo ele, é preciso tirar os fundos de pensão da “zona de conforto”.
"Não basta colaborar com a investigação. Isto é o básico. Quem não contribuir, além da responsabilização respectiva, deve ser objeto de nota pública do MPF aos aposentados e pensionistas, apontando a defecção”, afirmou. (Fonte: G1)