Open banking: sistema promete concorrência a grandes bancos e juro menor a partir de 2020



O Banco Central deve anunciar ainda neste semestre as regras do open banking no país. O sistema permite que fintechs acessem dados de clientes de grandes bancos, se os consumidores autorizarem, e com isso haja mais concorrência e oferta de benefícios, como juros mais baixos. (Téo Taka)

A expectativa é que comece a funcionar gradualmente a partir do ano que vem. O Brasil deverá se inspirar no modelo adotado na Europa desde o ano passado. Cada cliente escolhe se autoriza ou não a divulgação das informações. Entenda como o open banking poderá afetar a sua vida, quais serão as vantagens e os riscos de abrir suas informações financeiras para todas as instituições.

QUAL O OBJETIVO? A proposta do open banking é aumentar a concorrência no sistema financeiro. É uma das medidas do Banco Central para forçar a redução do chamado spread bancário, que é a diferença entre a taxa de juros que o cliente paga em um empréstimo e o que banco paga quando se faz um investimento nele.

QUEM GANHA? As fintechs (empresas de tecnologia que oferecem serviços financeiros) deverão ser as maiores beneficiadas pela liberação do acesso às informações bancárias dos brasileiros. Os clientes bancários também deverão ter mais opções, serviços melhores e custos menores.

QUEM PERDE? Hoje os cinco maiores bancos brasileiros --Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, Itaú Unibanco e Santander-- respondem por cerca de 85% de todos os depósitos do país. Eles enfrentarão mais concorrência.

PRESTE ATENÇÃO: "Os dados pertencem ao cliente, e não ao banco. É o cliente que irá decidir se permite, ou não, que as informações sobre os produtos que ele utiliza sejam compartilhadas no sistema", afirmou José Luiz Rodrigues, sócio da JL Rodrigues, Carlos Átila & Consultores Associados.

Fintechs poderão oferecer opções melhores 
Com a abertura das informações, bancos menores e fintechs terão acesso a dados que hoje estão restritos aos grandes bancos, já que eles detêm a maioria dos correntistas do país.

"Ao autorizar o compartilhamento dos dados sobre produtos, como investimentos, empréstimos e seguros, o cliente poderá receber ofertas de outros bancos e fintechs com taxas e condições melhores", disse Rodrigues.

Atendimento personalizado que banco grande não dá 
O maior acesso aos dados permitirá que as instituições menores, especialmente as fintechs, ofereçam produtos personalizados e que sejam mais adequados à necessidade de cada cliente.

"As fintechs são muito mais ágeis e conseguem se relacionar melhor com o cliente, de forma mais próxima dos que os grandes bancos", afirmou Rodrigues.

"Os grandes bancos, em função do seu porte, atuam de forma agregada, ou seja, eles olham grupos de clientes. Isso faz com que muitas pessoas sejam desfavorecidas. Já a fintech não tem essa atuação em massa. Ela é mais ágil e consegue ir a fundo no perfil do cliente, oferecendo produtos mais adequados", afirmou Michael Viriato, professor de finanças do Insper.

Vantagens para clientes devem demorar um pouco 
A implantação do open banking no Brasil ainda depende da padronização da troca de informações entre as instituições financeiras, bem como da definição de protocolos de segurança para garantir que tais dados não sejam divulgados sem autorização ou vazem para fora do sistema bancário.

A expectativa é que o Banco Central anuncie as regras ainda neste semestre e que o sistema comece a funcionar em 2020. De toda forma, os efeitos positivos do open banking somente serão percebidos pelos brasileiros a longo prazo.

"No começo, as fintechs não farão cócegas nos grandes bancos. Ainda vai demorar alguns anos para que elas comecem a incomodá-los. Mas a tendência é que aconteça o mesmo fenômeno que nós estamos vendo hoje com as plataformas digitais de investimento. Elas conquistaram muitos clientes que antes só investiam por meio dos grandes bancos, oferecendo mais produtos e com rendimentos melhores", disse Viriato.

Segurança da informação é principal risco 
Um dos pontos que estão em discussão entre o Banco Central e as instituições financeiras é como garantir a segurança das informações.

"O Banco Central terá que padronizar a transmissão desses dados via APIs (sigla em inglês para interfaces de programação de aplicativos). Os sistemas terão que 'conversar' entre si e, ao mesmo tempo, serem protegidos contra ataques cibernéticos", declarou Rodrigues.

"A segurança da informação é uma área crítica, de alto risco. Temos visto uma série de vazamentos no mundo todo envolvendo grandes empresas, como o Facebook. Não há sistema que seja 100% livre de ataques. Mas é claro que o Banco Central exigirá dos bancos um nível de segurança elevado para o open banking", disse Viriato.

Bancos temem falhas na segurança 
O risco de vazamento ou de uso indevido das informações dos clientes e a possível responsabilização jurídica dos bancos por essa falha preocupam as grandes instituições.

"A implantação do open banking ainda tem alguns desafios a serem vencidos, como os riscos impostos pela legislação em vigor à entidade que fornece os dados, no caso de uso indevido destes dados por parte do recebedor da informação. Esse tipo de risco inibe a inovação e a oferta de produtos e serviços convenientes aos clientes, como já vem ocorrendo em outras jurisdições", declarou a Febraban (Federação Brasileira dos Bancos).

"Entendemos que é fundamental que os participantes do open banking sejam entidades autorizadas e reguladas pelo Banco Central, de forma a estabelecer regras de padronização, captura de consentimento do cliente e uso adequado da informação compartilhada", afirmou a entidade. (Fonte: UOL)


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