Itaú, Bradesco e Santander: inadimplência ainda preocupa e cenário é de cautela no crédito
Três maiores bancos privados do País têm observado desaceleração na demanda das empresas por financiamentos (Por Matheus Piovesana)
Os três maiores bancos privados do País observaram, no primeiro trimestre deste ano, uma queda de 18,3% no lucro líquido combinado, para R$ 14,855 bilhões. As tendências divergiram, mas tanto Santander Brasil e Bradesco, mais afetados pela aceleração da inadimplência no último ano, quanto o Itaú Unibanco, que registrou um lucro mais alto no período, mantêm cautela nas concessões, e observam desaceleração na demanda das empresas por crédito.
No Itaú, o segmento de pessoas físicas teve inadimplência estável entre o quarto trimestre de 2022 e o primeiro trimestre deste ano, algo que ainda não aconteceu nos casos dos dois concorrentes. O maior banco da América Latina, porém, continua cauteloso. O presidente da instituição, Milton Maluhy, disse que a carteira de crédito deve continuar desacelerando ao longo do ano.
“Esperamos uma certa manutenção dos índices de atraso nos próximos trimestres, talvez com uma variação de 10 pontos-base para cima ou para baixo”, disse o executivo na segunda-feira, 8, em coletiva de imprensa.
O CEO do Santander Brasil, Mario Leão, afirmou que o banco deve continuar buscando clientes e produtos mais seguros, ainda que isso signifique, no curto prazo, menor rentabilidade. “Não esperamos alterar o nosso apetite de risco até o ano que vem.”
Em um cenário de juros ainda altos, o Itaú também continua com a estratégia de conceder crédito a clientes que já conhece, em geral correntistas do banco. É uma troca de crescimento por qualidade.
Tática parecida é vista no Bradesco, que observou uma piora mais acentuada da inadimplência ao longo do último ano e que, dos três, tem o índice mais alto, em 5,1% da carteira considerando os atrasos acima de 90 dias. “Há um apetite grande de crescimento em cartão de crédito para esse público, de alta renda”, disse o presidente do banco, Octavio de Lazari Junior.
As percepções dos três bancos sobre a inadimplência no segmento de pessoas físicas, porém, divergem: enquanto o Itaú acredita que esse pico chegou, o Bradesco acredita que virá no segundo trimestre, e o Santander evita cravar quando acontecerá. “É difícil dizer quando haverá um pico, no Brasil, na inadimplência entre pessoas físicas”, disse o diretor financeiro do banco, Gustavo Alejo.
Limpeza
Neste momento, o foco dos bancos tem sido o de “limpar” as carteiras de crédito, por dois motivos. O primeiro é que as operações originadas antes do ano passado têm taxas em geral mais baixas, porque aconteceram em um contexto de Selic abaixo dos dois dígitos.
Segundo, porque a inadimplência das safras mais antigas teve rápida aceleração, causada tanto pelos juros, em linhas pós-fixadas, quanto pelo empilhamento de dívidas da população.
“As safras novas já são mais da metade do portfólio, é a primeira vez que isso acontece”, disse o CEO do Santander, Mario Leão. No caso do banco, isso significa empréstimos concedidos a partir de janeiro de 2tícias Feeb/PR022, quando o executivo assumiu o posto e o conglomerado decidiu fechar a torneira, adiantando uma decisão que outros bancos viriam a tomar.
Os bancos esperam que esse processo ajude a reduzir o provisionamento à frente. “As safras que originamos em outubro e novembro do ano passado têm uma necessidade de PDD (provisões para perdas) menor e, com isso, a provisão vai desacelerando”, disse Lazari, do Bradesco.
No segundo maior banco privado do País, as provisões no primeiro trimestre, de R$ 9,5 bilhões, ficaram abaixo da entrada de empréstimos em atraso, o que se justifica por essa perspectiva de menor deterioração dos ativos à frente. O Itaú, por sua vez, separou R$ 9,1 bilhões para fazer frente a atrasos, praticamente em linha com os novos atrasos registrados no primeiro trimestre.
Para este ano, o Bradesco espera separar entre R$ 36,5 bilhões e R$ 39,5 bilhões em provisões, enquanto o Itaú estima que seu custo de crédito ficará entre R$ 36,5 bilhões e R$ 40,5 bilhões. Ou seja, estimam crescimentos de até 22,3% e de até 25,4% nos custos com inadimplência neste ano, mesmo com a maior cautela nas concessões. O Santander não fornece projeções ao mercado. (Fonte: Estadão)
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