Após intervir em comercial de TV, Bolsonaro pede juros baixos ao BB



Presidente apela em defesa do setor agropecuário; ações caem, mas fecham na estabilidade (Marcelo Toledo e Talita Fernandes)


O presidente Jair Bolsonaro (PSL) fez um apelo público nesta segunda-feira (29) ao presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, para que a instituição reduz os juros para o setor agropecuário.

O pedido foi feito durante a Agrishow (Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação), em Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo).

A declaração foi precedida de uma afirmação do presidente de que o homem do campo "precisa de ajuda dos administradores, não apenas que o Estado atrapalhe".

"Agradeço aqui, o nosso prezado Rubem Novaes, presidente do Banco do Brasil, que traz R$ 1 bilhão para investir nessa área", disse Bolsonaro.

"Eu apenas apelo, me deixe fazer uma brincadeira aqui, apenas apelo para o seu coração, para o seu patriotismo, para que esses juros, tendo em vista você parecer um cristão de verdade, caiam um pouquinho mais", afirmou.

Ele foi aplaudido pelos ruralistas presentes à Arena do Conhecimento, espaço da Agrishow que sediou a abertura da feira agrícola.

Em seguida, Bolsonaro afirmou ter certeza "que as nossas orações tocarão seu coração", referindo-se a Novaes.
 
Com a fala sobre os juros, as ações da companhia, que registravam alta na manhã desta segunda, passaram a cair. A queda foi de cerca de 1%. Ao longo do dias, os papéis se recuperaram e fecharam estáveis, com alta de 0,04%.

Em discurso na cerimônia de abertura da Agrishow, Bolsonaro também afirmou que seu governo está fazendo estudos para conceder e privatizar portos e defendeu que a propriedade privada é sagrada.
 
Além do R$ 1 bilhão citado por Bolsonaro, outros bancos, como Bradesco e Santander, preveem crescimento de até 20% nos financiamentos até sexta-feira (3).

No total, a Agrishow projeta fechar R$ 3 bilhões em intenções de negócios, acima dos R$ 2,7 bilhões da edição do ano passado.

À tarde, o porta-voz da Presidência, general Otávio do Rêgo Barros, afirmou que o governo não quer interferir nas taxas de juros do banco.

"Obviamente que o presidente não quer e não intervirá em aspectos que estejam relacionados a juros dos bancos que estão em tese sob o guarda-chuva do governo", afirmou Rêgo Barros.

Rêgo Barros afirmou que, se a fala de Boslonaro foi criticada, "foi uma falta de oportunidade de evitar a crítica".

"Quando o presidente fez esse comentário estava em um ambiente muito amigável", afirmou, negando que a fala tenha sido feita em um tom de cobrança.

Essa não é a primeira vez que Bolsonaro interfere em ações do banco público.

Na semana passada, o presidente já havia interferido na instituição com o veto à propaganda da empresa votada ao público jovem. Para analistas do mercado, a intervenção não trouxe impactos imediatos para o banco.

Questionado sobre se o veto não seria uma intervenção do governo numa estatal, Rêgo Barros negou.
 
"Ao contrário. Quando você estabelece políticas estratégias e planos é porque você confia na ponta da linha. A política tem uma estratégia ampla, a estratégia é como executar a política e o plano é o dia a dia da elaboração da efetiva execução da propaganda", afirmou o porta-voz. (Fonte: Folha.com)


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