Como será o 'novo normal' de Renner, Itaú e outras empresas após a pandemia
Itaú avalia criar um modelo de trabalho mais flexível
Renner acelerou uma nova plataforma de educação corporativa, totalmente digital (Por Diogo Antônio Rodrigues)
Igor Piquet, um dos diretores da organização de apoio a empreendedores Endeavor, é categórico: "O covid-19 será o maior acelerador de tendências que já tivemos. Tudo o que já iria acontecer vai acontecer mais rápido e mais forte". Em algumas empresas, sua análise não é profecia: já é realidade.
Entre as companhias que tiveram de repensar dinâmicas de gerenciamento, comunicação e trabalho está a Lojas Renner, com mais de 500 unidades em operação no mundo. A pandemia acelerou planos de digitalizar sua "universidade corporativa". Foi criado um sistema de vídeos on demand, ao estilo Netflix, que recomenda conteúdo conforme as necessidades de aprendizado do funcionário. "Temos material de universidades e plataformas do mundo todo", afirma a diretora de gente e desenvolvimento Clarice Costa.
Home office para sempre
A diretoria da Asaas, empresa de gestão financeira, já bateu o martelo: o home office veio para ficar. "Já começamos a fazer contratações de pessoas que não têm a possibilidade de voltar para o escritório presencial", explica o CEO Piero Contezini, CEO. A empresa, porém, ainda não definiu se irá cobrir custos de luz e internet dos funcionários (a CLT não obriga o pagamento, mas a análise dos juristas é de que seria o mais correto). O escritório da empresa continuará existindo, mas nem mesmo Contezini terá mesa fixa. "Os 180 postos poderão ser usados por qualquer pessoa", afirma.
A LafargeHolcim Brasil, do setor de material de construções, também oficializou o home office para seus 150 funcionários no Rio de Janeiro. "O resultado da experiência no início da pandemia foi positivo, o que nos levou a acelerar essa transformação", explica Juliana Andrigueto, diretora de RH e comunicação. Com isso, a empresa estima uma redução de custos de R$ 2 milhões por ano.
Itaú
O Itaú, que migrou mais de 50 mil colaboradores para o home office, estuda algo similar, ainda que não para todo o quadro de funcionários. "A experiência positiva com o trabalho remoto naturalmente nos fez pensar em como incorporar um modelo de trabalho mais flexível, com mais opções de soluções tecnológicas", explica a diretora de recursos humanos Valéria Marretto.
Segundo a pesquisa Gestão de Pessoas na Crise de Covid-19, conduzida pela Fundação Instituto de Administração (FIA), porém, 70% das empresas brasileiras planejam descontinuar ou reduzir drasticamente o home office após a crise sanitária.
Como ficam a comunicação e o feedback?
Muitas vezes, o novo modelo de trabalho exige alterações nos protocolos de comunicação. A pesquisa Gestão de Pessoas na Crise de Covid-19 revelou que 34% das empresas brasileiras tiveram dificuldades no uso das ferramentas de comunicação remota com funcionários em home office. E também 34% tiveram problemas com o comportamento dos funcionários nos novos ambientes virtuais de contato.
A DOT Digital Group sentiu essa necessidade e criou novos guias para comunicação, gestão e feedback no modo virtual. Para o CEO Luiz Alberto Ferla, a mudança está sendo positiva. "Os funcionários estão mais autônomos e responsáveis, sabendo que podem resolver muitas coisas de forma independente", afirma.
O RH pode sair da crise empoderado
André Fischer, professor da FIA especialista em clima organizacional, afirma que outra consequência possível da pandemia é a reformulação dos setores de RH e uma influência maior nas estratégias das organizações. "O RH foi guindado para os comitês de crise", avalia. "Ele entrou nesse nicho de decisões estratégicas - em algumas empresas, pela primeira vez. E pode ser consolidado defenitivamente nessa função".
Foi o que aconteceu no grupo Cogna Educação. A empresa já passava por uma transição digital, que incluiu a reformulação da área de recursos humanos. A pandemia agilizou o processo. "A partir de agora, o setor vai priorizar o engajamento, a saúde mental das equipes remotas e a segurança dos colaboradores que retornarem ao trabalho de campo", explica Gabriela Diuana, diretora de gente, cultura e inovação.
Nem toda mudança é válida
Rodolfo Araújo, vice-presidente para América Latina da consultoria de RH United Minds, reforça que essas alterações são importantes, mas precisam ser executadas de acordo com as necessidades reais de cada companhia. Para orientar esse processo, ele sugere algumas perguntas:
- Que modelo de lideranças desejamos manter?
- Que erros foram cometidos e precisam de retratação?
- Que novos critérios de priorização de atividades e investimentos devem ser feitos?
- Quais valores precisam mudar ou serem reforçados?
- Que comportamentos serão demandados daqui para frente?
- Como lidar com a diversidade e inclusão em um país ainda mais desigual?
"Essas respostas só podem ser conseguidas com método e dedicação", afirma. (Fonte: UOL)