Cooperativas crescem mais que bancos em crédito rural


Apesar da pequena participação de 2% no bolo total do sistema financeiro brasileiro, as cooperativas de crédito começam a ganhar peso no fomento à atividade agropecuária no País. Tanto é que, nos últimos 12 meses encerrados em junho, a taxa de crescimento das operações de crédito rural via cooperativas cresceu 45,1%, enquanto o desempenho dos bancos avançou 24,5%. No ano, as pequenas organizações cooperadas acumulam alta de 14% na liberação de recursos para ajudar agropecuários em todo o Brasil a expandir seu campo de cultivo e aumentar a produtividade, com um estoque de R$ 4,083 bilhões em crédito concedido. 

As instituições financeiras, cujo avanço na modalidade atingiu 12,3%, só vencem em volume de recursos administrados, que chega a R$ 68,179 bilhões no primeiro semestre deste ano, de acordo com dados do Relatório de Crédito do Banco Central (BC). O superintendente de crédito do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob), Paulo Ribeiro, afirma que a valorização dos preços das commodities agrícolas no mundo inteiro ajuda a justificar esse quadro. "Se a demanda por um produto aumenta, a necessidade de financiamento por parte dos pequenos produtores cooperados também cresce", opina Ribeiro. Mas não é só isso que justifica o ritmo mais forte da participação das cooperativas nas operações de crédito rural. 

Apesar de o País ter uma forte economia agropecuária, Ribeiro diz que os grandes bancos privados ainda desprezam o crédito rural. "Eles têm preferência por operações mais rentáveis, já que o crédito rural tem taxas controladas. O sistema cooperativo, então, acaba drenando os recursos privados", explica. Segundo Fabio de Carvalho Pinto, diretor da InterCapital Finanças, a variação do crédito rural cooperativo cresce mais do que igual modalidade no sistema bancário devido ao forte relacionamento recíproco entre o cooperado e sua cooperativa. Um facilitador, explica o especialista, é a política de garantias para empréstimos. Enquanto a cooperativa geralmente solicita a própria colheita futura, os bancos só trabalham com garantias reais. "O sistema de cooperativa é criado para esta finalidade. Como o crédito rural é muito pulverizado, os tomadores não têm o perfil que se enquadra nas formalidades exigidas por uma instituição financeira para a liberação dos recursos". Incentivo O diretor da InterCapital destaca ainda que é papel das organizações cooperadas incentivar o negócio de seus associados. "A cooperativa ajuda tanto na produção quanto no escoamento do produto final, com taxas menores do que as do sistema bancário", afirma Pinto. 

Em alguns casos os recursos das cooperativas são arrecadados pelos próprios associados, enquanto os bancos captam recursos em CDBs, que geram custos maiores. O gerente de mercado da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Evandro Ninaut, informa que as instituições financeiras tradicionais não estão nas regiões de microcrédito, ou seja, nas regiões rurais, onde existe um cooperativismo bastante arraigado. "A cooperativa conhece seu associado e verifica quem tem condição de pagamento", afirma ele. Segundo Ninaut, mesmo seguindo as regras do sistema de crédito do Banco Central, as cooperativas funcionam com menos burocracia. Outro fator agilizador das concessões das cooperativas rurais foi uma linha de financiamento do Banco Social de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Procapcred, que proporcionou entrada de R$ 300 milhões para as cooperativas ampliarem seu patrimônio. Ninaut conta que houve um fortalecimento no sistema de gestão das cooperativas. "Hoje, elas oferecem financiamentos mais coerentes e com menos riscos. A cooperativa é um negócio do próprio produtor." Magnus Miller, da Sicredi Pioneira, um sistema nacional que oferece empréstimos a produtores rurais cooperados, explica que o crédito rural de sua organização busca antecipar o recurso do crédito oficial com o dinheiro da própria cooperativa. "Quando recebemos das fontes de recursos oficiais, como o BNDES, liquidamos a operação", explica Miller.

Fonte: DCI


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