Ele decidirá o futuro do BB


André Brandão pode trocar o HSBC pelo Banco do Brasil, com a missão de melhorar a rentabilidade e avançar nas vendas de ativos – o que pode incluir a própria instituição.

(Por Carlos Eduardo Valim)
 
O pedido de demissão de Rubem Novaes do comando do Banco do Brasil (BB) foi inesperado, mas não imprevisível. O executivo de 74 anos havia sido alvo de críticas por todos os lados. Para o mercado, ele não evitou a deterioração da rentabilidade da carteira de crédito do banco, mesmo antes da crise da Covid-19, e deixou a gestora de investimentos praticando taxas sem competitividade. Para representantes do governo, o BB adotara uma postura tímida de coadjuvante na ajuda de crédito para as empresas, durante a pandemia, em especial, em comparação com a Caixa e o BNDES. Para os funcionários da estatal, as diversas declarações de Novaes de que gostaria de vender o banco em sua totalidade para a iniciativa privada causavam rejeição.

Para os congressistas, ele seria alinhado com a pauta ideológica do “guru” Olavo de Carvalho, o que prejudicava a relação entre o Legislativo e o Executivo. Por isso, sua saída, alegando desacordo com o clima político de Brasília, abriu uma oportunidade. É consenso que o centenário BB precisa de uma liderança mais jovem e pronta para enfrentar as revoluções do sistema financeiro com a chegada das fintechs. Esse é exatamente o perfil de André Brandão, que foi presidente do HSBC no Brasil entre 2012 e 2016 e depois alçado a diretor de global banking para as Américas.

O anúncio de que o cargo seria dele, feito pelo presidente Jair Bolsonaro no domingo (2), agradou ao mercado. A oficialização dependeria apenas da negociação de saída amigável com o HSBC, onde Brandão deu expediente por 17 anos após passagem pelo Citibank. Até o fechamento desta edição, na quinta-feira (6) a confirmação não havia se concretizado, o que fez surgir especulações quanto a uma reviravolta. Outro nome, contudo, jamais chegou a ser aventado.

Se confirmada, a nomeação de André Brandão ao BB seria uma vitória para a ala pragmática do governo. Para o analista do banco digital Modalmais, Christian Lupinacci, “Brandão não tem nada da ala de política ideológica”. Além disso, ele pode acelerar as negociações de vendas de ativos, “com uma característica mais técnica, capaz de melhorar a carteira de crédito”. Em relação a esse último ponto, pode estar aí o motivo principal para as ações do BB serem negociadas com desconto em relação aos rivais privados Itaú, Unibanco e Bradesco. Segundo Lupinacci, os papéis do BB estariam sendo comercializados a um múltiplo de preço por lucro de 5,6 vezes, em comparação com 11 vezes do Bradesco e 15 do Itaú – considerando os resultados do segundo trimestre dos bancos privados e o exercício anterior da estatal, já que os últimos números só foram divulgados na quinta-feira (6).

QUEDA NO LUCRO 
No segundo trimestre, o BB registrou queda de 23,7% do lucro líquido contábil, para R$ 3,2 bilhões, em relação ao mesmo período de 2019. O recuo da carteira de crédito foi de 0,5% frente ao primeiro trimestre. “O mercado não está gostando muito de como a parte de crédito vem sendo tocada”, disse o analista do Modalmais. “Ela perdeu eficiência e sempre foi o grande mote do BB.” Uma forma de melhorar rapidamente o valor das ações seria sinalizar que as vendas de ativos vão se iniciar. Isso já teria o potencial de dobrar a relação de preço das ações por lucro do BB.

No HSBC Brasil, Brandão assumiu a presidência logo após a venda da operação local para o Bradesco, por US$ 5,2 bilhões. A estratégia desagradou ao presidente anterior, Conrado Engel, que foi para o Santander. Se for mesmo para o BB, Brandão terá o desafio de negociar ativos do banco, como a área de gestão de recursos, que já atua em parceria com o UBS, a operação de banco digital e de cartões. Esta última área pode avançar mais rapidamente. BB e Caixa têm buscado convencer o Bradesco a levar a bandeira de cartões Elo à bolsa de valores, para se desfazerem de suas ações. Ao lado dos 50,01% do Bradesco, o BB possui 49,99% da Elopar, holding que controla a Elo, com 57% de participação. A Caixa tem 37% dos restantes, completados por mais 6% do Bradesco. Se conseguir avançar nessa transação, o novo presidente terá rapidamente mostrado a que veio. (Fonte: IstoÉ Dinheiro)


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